Todo fim de ano, sua família ia para a praia, passar a virada, numa casinha na beirada da areia, herdada dos avós da moça. Passavam, geralmente, duas semanas no lugar, duas semanas que Hadassa sempre soube aproveitar, e muito.
Corria na praia, em direção e no ritmo do nascer do Sol. Depois, deixava as ondas a levarem para longe dali. Seus sonhos tomavam forma. Tudo era possível. Tudo era bonito.
Depois, Hadassa garota ia para casa, tomava um longo banho, e ajudava o pai a preparar o almoço, que sempre incluía algum fruto do mar. De tardinha, acompanhava o pôr do Sol, e a família se reunia para conversar.
Mas isso tudo, agora, estava longe.
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Hadassa morava numa cidade grande, movimentada, poluída. Não tinha nada em comum com a pequena cidade de veraneio. Trabalhava o dia todo, em diversos afazeres. Seu pai tinha morrido de câncer uns três anos atrás. Não via sua mãe há dois anos. Haviam brigado logo após o falecimento do pai. E claro, a cidade não tinha praia.
A vida era corrida, e ela não tinha tempo pra muita coisa que gostaria de ter. A cidade era cinza e triste. Assim como Hadassa, que então, decidiu que não seria mais triste, com a vida corrida na cidade cinza.
Comprou passagens para uma dessas praias bonitas e caras, preparou as malas, e partiu em busca da paz de espírito, da calma... da felicidade, enfim.
Chegando no lugar, se instalou num bom hotel, tomou algum drinque bonito, e foi em busca da praia. Descobriu que aquela praia não lhe trazia o que ela esperava, então, procurou algum lugar nas montanhas, com o frio. Talvez o contraste lhe desse o efeito.
Viajou para as montanhas, cheias de neve, de roupas pesadas e bebidas fumegantes. Ainda assim, não achou o que procurava. Decidiu voltar para casa.
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Correu pela praia, sentiu a água batendo nos pés, a brisa na pele. O ar estava salgado e feliz. Hadassa se sentia bem consigo mesma.
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Voltou para sua rotina. Sentiu-se, novamente, pressionada, infeliz e perdida. Nesse momento, soube que não era o lugar, mas que ela já tinha arruinado tudo por conta própria, e que não poderia respirar aliviada antes de corrigir tudo.
Despediu-se do trabalho. Conversou com a mãe. Mudou o corte de cabelo, e sentiu-se determinada e pronta para qualquer coisa. Então pensou na praia. Era lá, sim!
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Ela sentia-se bem consigo mesma.
Olhou o mar. Ela adorava o mar.
Adorava, principalmente, as lembranças que ele lhe despertava. Aquele mar.
Foi deixando as ondas levarem os pensamentos para longe, e ela também foi para longe. Tornou-se mar. Misturou-se com os oceanos, virou chuva, regou a flor. Ela foi longe, mas nunca saiu do lugar.
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