sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

treze dez vinte e três

 penso muito em quando eu tinha treze anos

eu tenho vinte e três anos, e constantemente penso em quando eu tinha treze. aquela coisa de que realmente é uma idade que muda muito na vida de uma menina, e é mesmo. o tempo todo eu penso no que mudou e no que nunca vai mudar, porque dez anos é tempo suficiente, eu acho, pra poder ter esses distanciamento e ver onde a vida tá levando a gente.

a coisa é: a vida vai levando. nessa hora as vezes chega o questionamento se eu me levei ou ela levou e para onde. os últimos dias têm sido um pouco estranhos, e eu sinto que não fui pra lugar nenhum, e minha cabeça só pensa se eu errei ou se só ainda é cedo. qual o limite do cedo? quando é tarde demais?

com treze anos é cedo demais, mesmo que nesse momento a gente decida muito. nesse momento que sinto que nada está dando em nada me agarro no que eu tenho desde sempre: um pouco de escrita, um pouco de músicas que me confortam – e nesse momento me encontro escutando strokes, lugares que a gente volta quando tudo desanda –, um pouco de sonhar com o que mais.

às vezes o que faltou com treze anos foi sonhar um pouco mais. e com coisas possíveis. qual foi a meta? eu acho que não exatamente cheguei nela, mesmo que ela não existisse, mas na verdade a gente não tem noção de o que seremos, quão novo tudo continua sendo. porque continua. será que para sempre? ou será que alguma hora a sensação de desbravar o mundo acaba?

poderia falar que o saldo positivo é que a calma cresce minimamente, o controle emocional. mas tem horas que eu sou uma menina de treze anos cortando a franja. mas daí o controle emocional é que ficar ridículo não é exatamente um problema mais. mas não sei se é isso ou se é só aceitar que o tempo passa, mais rápido do que a gente gostaria. enquanto ele parece um pouco estagnado. e da nossa insignificância. ela cresce e muda de jeito. mas no fim, as coisas seguem sempre as mesmas.

na verdade as coisas vão fluindo devagar, elas mudam aos poucos e aos poucos e aos poucos. a sensação de que tudo está parado é horrível, mas olhando ao para trás as coisas se movimentaram. depende de qual movimento você queria. esse vinte e três anos me pareceu pouco, mas eu fiz algumas coisas importantes para mim. esse texto começou a ser  escrito num momento que eu sentia que nada ia para lugar nenhum, e hoje, vários meses depois e quase vinte e quatro, eu não lembro quais eram essas coisas.

pensando bem, ainda estou exatamente no mesmo lugar, mas em outro.

pessoas passaram, pessoas chegaram, meu corpo mudou, conheci novos lugares, descobri novas coisas que gosto, aceitei outras que não, e enquanto o futuro ainda me parece instável e outras pessoas no mesmo tempo que eu tenham vidas diferentes, no fim, eu acho que quem eu era com treze anos não ia estar satisfeita com o que somos dez anos depois, porque acho que ela se levava um pouco mais a sério. eu de vinte e três também não estou satisfeita, mas sei que é passageiro. o sentimento de estagnação vem de as coisas serem feitas devagar. mas eu não tenho muito problema com isso.

também parei um pouco de pensar muito em quando eu tinha treze anos.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

sobre

quando eu escrevia no blog a maioria dos títulos começavam com sobre. e nunca eram sobre muita coisa, porque, afinal, o que uma pessoa com trezes anos poderia escrever tanto sobre? mas eram sobre muito mais do que eu consigo escrever hoje.

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estava aqui, olhando livros para comprar, uma coisa que aliás eu ainda faço muito bem quando tenho dinheiro, que aliás é uma coisa que faço muito pior do que quando tinha treze anos, guardar dinheiro, e vi vários títulos começados com “sobre”. engraçado, porque parece que serão exatamente o que eram aqueles textos todos escritos por todas aquelas pessoas entre doze e vinte anos que eu lia.

mas escrever é muito difícil quando não é sobre algo. eu comecei um diário esse ano, porque eu achei que precisava voltar a pensar em palavras. eu nunca pensei MUITO bem em palavras, mas sempre consegui me organizar da melhor forma assim, mesmo que não fosse uma escrita organizada. sempre foi comentado como eu fazia ou frases muito longas que se perdiam ou frases muito curtas e muitas delas. não estavam dispostas da forma mais organizada possível, mas estavam na minha cabeça. na faculdade de arquitetura consegui piorar muito mais isso. meus pensamentos podiam ser desenhados, podiam ser expressos em diagramas, em mapas conceituais, em cores, em fotos. resultado: não sei mais escrever nada, e o sofrimento é ainda maior se alguém tiver que ler o que eu vou escrever. me deixa extremamente ansiosa. mas então eu comecei um diário. o objetivo era escrever todo dia alguma coisa, igual eu fazia no blog: meus sentimentos, algo legal do meu dia, uma palavra, colar alguma coisa bonita, não sei, qualquer coisa. e eu falhei nesse objetivo.

eu queria que fosse algo físico, mas isso simplesmente não funciona pra mim. eu escrevo bem mais devagar do que penso no papel. e uma letra horrível. e não da pra pensar duas vezes. e nesses sete meses que já estão indo, eu devo ter escrito umas quatorze coisas no máximo, porque eu não consigo escrever, porque era pra ser tudo, e nunca é sobre muito.

engraçado que eu sentei aqui, sem compromisso algum com escrever qualquer coisa, só queria anotar que achei engraçado a coisa dos sobres e pensei hm, depois eu passo o pequeno pensamento que tive por escrito no caderno! e aí eu consegui escrever bem mais. acho que foram os anos de treinamento de abrir uma página em branco digital e digitar qualquer coisa sobre qualquer coisa.

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e porque esse velho hábito que eu não tenho mais mas me voltou tão naturalmente, tirando o fato de que provavelmente com bem menos acerto de palavras, com frases bem mais mal formadas e com bem menos graça literária de quando eu tinha até meus dezesseis anos, penso que se eu tivesse tentando voltar a organizar minhas ideias e sentimentos de forma escrita, assim, tão mais livre, eu teria conseguido bem melhor. ou não. ou todas as coisas que eu digeri até o presente momento do ano foram um pouco complicadas mesmo e eu não consegui colocar elas em palavras mesmo.

mas eu me sinto muito bem escrevendo de novo. talvez eu devesse sempre abrir uma página qualquer e digitar de vez em quando umas quinhentas palavras sobre algo sem voltar pra ler depois se o pensamento fez algum sentido mesmo, se está escrito certo, se a gramática está correta. faz bem.

sábado, 18 de junho de 2022

liguei uma câmera, 

assim posso me monitorar.


quem sou eu quando eu estou me vendo?

quinta-feira, 16 de junho de 2022

sou/não sou

às vezes acho que ocupo muito espaço, que não há lugar pra tudo isso em lugar nenhum. que ninguém está disposto a receber essa carga toda, que ninguém quer o que tenho. aí penso, será que é porque esse espaço todo que eu ocupo é só tralha? nada de útil, apenas uma caixa que junta poeira e qualquer dia desses umas traças, incômoda, atrapalhando o fluir do espaço?

às vezes acho que ocupo muito espaço, mas na verdade, acho que nunca ocupo espaço nenhum. nunca perceptível, apenas implodo por onde passo, e ninguém vê. ninguém nunca vê. acho que então não sou nada, apenas um vazio. mas até o vazio, às vezes, ocupa muito espaço. 

sigo sendo qualquer coisa, que não é coisa demais. nem coisa de menos. sendo qualquer coisa, pra qualquer pessoa, com qualquer objetivo. tenho medo de te um objetivo, e então demandar ser algo. não sou nada. nem incômodo, nem vazio, nem coisa demais. 



nem nada.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

do tempo que escrevi

quando eu era mais nova, escrevia sempre em primeira pessoa. minhas experiências ou qualquer coisa que não era minha mas eu achava que poderia falar. escrevia muito porque me sentia muito perto de nada. gostava da não materialidade de escrever num espaço virtual, escrever em palavras incertas.

ai a coisa cresceu dentro de mim, e me sentia insegura com o que eu escrevia. não era bom. não tocava mais ninguém. não queria escrever em eu, não queria que fosse sobre eu. mas no fim, e discussões todas a parte, é sempre sobre eu. e a partir disso, parece que fui morrendo.

as coisas mudaram, e eu mudei. e minha forma de pensar mudou. então eu não estava mais preocupada com escrever tanto assim. as coisas me atropelaram, e foram indo em outra direção. aprendi a pensar de outra forma, pensar em forma. os pensamentos começaram a se materializar de outra forma, de forma material. eles começaram a se tornarem também menos abstratáveis. frases objetivas, falar as coisas  o que são. em outros meios. para pessoas. eu queria que alguém realmente ouvisse qualquer coisa que eu tivesse pra falar.

e ai que falei muito, e muito, e igual ninguém ouviu nada. nessa jornada das palavras e da procura por posicionar elas bem, achando sempre tudo errado. era tudo errado. será que eu que era errada? a forma de formar as frases, a quantidade de palavras, o tema, nunca satisfeita. e tudo sempre nunca satisfeita comigo, no fim das contas.

se ainda escrevo? não sei. mas continua fiel essa amiga, as palavras.

segunda-feira, 25 de abril de 2022

corpo

qualquer dia desses viro apenas um conceito
deixo de ter um corpo
não me recuperei de não ter um corpo
parecia que não tinha nada

qualquer dia desses viro uma abstração
desses dias que penso que quero ser minha menor versão
sumir com pouco do meu corpo
dia desses, eles voltam

parece, com frequência grande,
que não existo, não muito
sou apenas uma sombra
um incômodo

conflitos, constantes
corpo que não existe
mas queria existir.

sábado, 19 de fevereiro de 2022