Era sexta, era manhã. Acordou, correu, bebeu café. Sentou. E viveu.
Essa era a rotina de Raiane.
Ela sabia que podia fazer algo bem legal com a porcaria da vida dela. Mas achava melhor não. A dor, o medo, o desconforto não valem a variedade. Melhor chorar enquanto escuta algo e finge que tá tudo ótimo.
A mãe dizia que ela seria muito influente desde que escolheu o nome dela. A que veio para brilhar. Aham. Ali estava, com vinte e poucos, e uma vida totalmente sem graça. Nem brilho. Nem começo de chama.
Mas assim, ela vivia calmamente (tédio). Sabia o que ia fazer no amanhã, sabia quanto dinheiro teria ao longo do mês e o que dava pra fazer com ele. Sabia que não dava era pra fazer nada com ele, mas pelo menos tinha consciência disso. Não se metia em problemas, e não conhecia ninguém a quem causar problemas.
Mas era sexta, era sexta-feria treze. Ninguém sabe muito bem por que (por que? sexta 13?), mas é um dia meio diferente, meio escuro, meio misterioso, e por isso ela resolveu entrar no clima, ler um pouco de Poe, e tomar um café um pouco mais forte que o comum.
Era de manhã, ouvindo Wall Watcher a manhã toda. Lendo. Bebericando seu café. Vendo o tempo que deveria estar fazendo algo útil (mais útil que ler e fazer nada, descansar? viver?!) passar. E foi. Era sexta, 13. Muito louco esse dia.
Essa era sua desculpa.
Sexta, como já dito alguma vez antes. Pessoas normais sairiam, iam se divertir com os amigos. Menos Raiane. Porque ela não tinha amigos. E odiava aquela cidade. E odiava a vida dela. E não tinha dinheiro. Raiane então comprou um vinho barato numa loja de conveniências do posto de gasolina perto de sua casa, continuou ouvindo Wall Watcher eternamente. E daí resolveu dançar no tapete felpudo da sala, que não era lavado há três meses (eu acho). E era sexta, 13.
Mas amanhã era sábado. Sem desculpa.
A vida continuou normal. Não mais Wall Watcher e sim pessoas a observando e não ao mesmo tempo. E mais rotina. E mais nada.
Quando era a próxima sexta, 13 para ela dançar no tapete felpudo (preciso levá-lo pra lavar) e fingir que não alcançava os trinta sem nada, e que não tinha mais quinze (maio de 2016)?
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