Sete
da manhã, desci ao estacionamento. Entrei no carro e saí. Estava a dois minutos
de casa quando percebi que havia esquecido de pegar uma pasta. Andando rápido,
entrei no prédio, e estava correndo para fora do portão quando percebi que
havia uma caixa na minha vaga. Dei de ombros, e continuei meu dia, e de noite a
caixa não estava mais lá.
Sete
da manhã, saí de casa. De noite, ao voltar, havia uma caixa na minha vaga. Dei
de ombros, coloquei ela para o lado, não sem antes olhar o que tinha dentro
dela. E não tinha nada. Então, estacionei o carro, e eu iria pegar a caixa para
jogar no lixo, caso a caixa não tivesse sumido. Estranho. Dei de ombros, tomei
um banho longo e calmo, antes de jantar. Na hora de dormir, imagens de caixas
de papelão como a do estacionamento passavam pela cabeça.
Sete
da manhã, era sábado.
Sete
da manhã, era domingo.
Sete da manhã, estacionamento.
Haviam três caixas em cima do meu carro. Eu teria que conversar a respeito
disso. Joguei raivosamente as caixas para o lado. Então saí para o trabalho.
De noite, ao
chegar, arrumadas uma ao lado da outra, várias caixas de papelão. Todas vazias.
Chorei de frustração e deixei o carro no meio do corredor.
Sete da manhã,
meu carro estava cheio de caixas de papelão dentro. Isso definitivamente estava
indo longe demais. Havia conversado com todos os outros três moradores dali, e
nenhum sabia a respeito de caixas de papelão. Isso era bem estranho. Alguém
estava querendo me irritar muito.
“Aviso se ver
algo de estranho! Mas são só caixas,
são inofensivas”, disse Marilene. “O fato de elas aparecem sem motivo nenhum não
lhe parece estranho? Alguém tentando roubar os apartamentos?” respondi, “na
verdade, só a possibilidade de ter alguém conseguindo entrar aqui com tantas
caixas, e aparentemente sem precisar forçar nada já é algo bem estranho! Podemos estar todos vulneráveis!” Mas Marilene riu de
mim, pare de ser boba.
“Várias caixas?
De papelão? Não vi nada não. Mas, hm..., eu preciso de algumas para colocar
alguns papéis para descarte. Quando aparecerem, por favor, guarda uma ou duas
pra mim, sim?” disse Emanuel, e eu resolvi rir educadamente e acenar com a
cabeça antes que eu perdesse toda a minha calma.
“Caixas
misteriosas? Bem, não há nada dentro que posso machucar as crianças? Elas
brincam lá em baixo o tempo todo. É estranho, não vi nenhuma caixa nos últimos
dias. Mas irei dar uma olhada mais frequente. Se houver algo que possa machucar
as crianças...” disse Paula e eu respondi com “algo ou alguém...”, o que a espantou e “nem pense nisso! Deve ter uma boa
explicação para isso! Mas recomendo você procurar a polícia. Imagina que pavor
se acontece algo!”.
Não era hora de
colocar a polícia no meio, não ainda. Ainda eram apenas caixas de papelão aparecendo
misteriosamente na minha garagem sem que mais ninguém estivesse vendo.
Considerei fortemente a ideia de que eu estava ficando louca.
E depois de rir
sozinha e chorar junto, e intercalar essas duas coisas, e tomar uma taça de
vinho, aceitei essa teoria.
Mas eu ainda havia tentando entrar no carro e elas
estavam lá, todas! Tanto que eu pedi uma carona! Mas estar louca, bem, era
algo a se considerar.
Mas não, por
hora nem polícia nem psiquiatras. Uma boa noite de sono. Amanhã tiramos
providências.
Sete da manhã,
ninguém no estacionamento.
Sete e sete,
Paula e as crianças no estacionamento, saindo para um dia de escola e trabalho.
Paula olhou brevemente a vaga ao lado, mas havia apenas o carro.
Sete e vinte,
Emanuel e seu carro. Verificou se não havia nenhuma caixa de papelão que
pudesse usar para colocar seus papéis. Não, nenhuma. Iria pedir no mercado,
deveria anotar isso, não esquecer.
Oito e quarenta
Marilene saiu para uma caminhada. Iria tomar café da manhã com uma amiga, que
morava uns dez minutos longe. Tomariam demoradas xícaras de café e conversariam.
Haviam passado
alguns dias, e não haviam sinais de caixas, nem histórias de caixas e nem da
própria pessoa preocupada com as caixas. Então, todos resolveram arrombar a
porta, uma vez que o carro estava no mesmo lugar de sempre, então, bem, ela não
havia saído dali.
Arrobaram a
porta e não se surpreenderam com o que viram.
Por acaso,
dezenas de caixas caíram ao abrirem a porta, e todo o resto do apartamento era
caixas de papelão. Após uma rápida tentativa de entrar, perceberam que não
havia como e chamaram uma empresa de reciclagem de papel para retirar o
material dali.
Ninguém nunca
mais ouviu falar na moradora daquele apartamento e as caixas não voltaram a
incomodar ninguém.
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