30/10/2025

novas chances aos livros abandonados: leituras de outubro/25

acabei de terminar de ler o morro dos ventos uivantes. isso que me motivou abrir esse documento para escrever. eu escreveria de qualquer jeito, sim, mas durante a leitura nenhuma anotação foi formulada, então, assim que terminei de ler vim escrever. minha história com esse livro começa uns dez anos atrás, quando peguei ele na biblioteca da escola naquela edição com a capa meio crepúsculo, mas eu não passei da página quinze, mais ou menos. achei chatíssimo e ele se tornou o primeiro livro da minha vida a ser abandonado.

com toda a questão do filme, eu, que sou uma pessoa que gosta de estar atualizada quanto aos assuntos do twitter, fui ler novamente. comprei ele, para não ter desculpas. demorei pouco mais de uma semana, e, enfim completei a leitura. e vou dizer: eu não fazia ideia de como era a história. mas me surpreendi positivamente de como ela é.

ainda acho o livro chato. não vou negar, não foi um livro que me deixou ansiosa para terminar logo, já que todas as pessoas dele são odiáveis. todo mundo é extremamente sonso e mimado. e vingativo. mas longe de esse ser o grande problema do livro, as pessoas chatas, eu não sou uma pessoa que procura virtudes nos personagens; é que é só? ok, o parceiro heathcliff tinha motivos para odiar todo mundo e querer vingança, e, em algum ponto, admite que gostava de fazer mal pelo simples fato de fazer mal mesmo, e aqui temos um ponto que é excelente. eu não me admiraria se eu também quisesse que elas morressem ou fossem desgraçadas caso eu vivesse com elas. é claro que, visto atualmente, toda a conduta do livro é criminosa ou no mínimo de mau gosto, e eu não posso dizer sobre os sentimentos dos leitores contemporâneos ao seu lançamento. e mais uma vez, isso não é nem de longe o problema do livro. violência descrita de um jeito meio fofoqueiro, enquanto as pessoas morrem e tem doença e morrem e tem doenças. não sei se ele é longo mesmo, eu não lembrava de ser, mas como comprei a edição de bolso, ele é um pouco grosso, e ele não é longo, tem edições dele com menos de 150 páginas (o meu quase 500. aí eu já não sei), mas ele foi longo demais. muito acontece mas não de um jeito interessante. é o tempo todo alguém doente, morrendo ou só sendo miserável.

o pior: eu adoro a ideia do livro. se fosse só por isso, essa coisa pessoas péssimas que, aparentemente, a única coisa que amam são a si mesmos e um ao outro. esssa coisa meio sombria, me agrada. o ódio geracional. uma mistureba de árvore genealógica. mas o desenvolver do livro não. e é isso, gosto mais da ideia do livro do que do livro em si.

no fim, fico feliz que dei uma chance de verdade para ele. agora, na lista de livros já abandonados, só temos um de auto ajuda. o que, para mim, não poderia me importar menos. 

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gostaria de fazer um comentário sobre um tiktok que vi esses dias sobre edições de clássicos. e a pessoa estava indicando quais as melhores editoras para comprar clássicos, tradutores, etc. ele falou que, para ele, o melhor eram as edições que vinham com textos de apoio, contextos do livro, notas explicativas, etc. eu não poderiam discordar mais. eu adoro ler um livro clássico como qualquer outro, sem se importar com o tempo que foi lançado. quero, eu mesma, descobrir os méritos dele. geralmente a gente não cai de paraquedas em um livro. então esses textos de apoio ou notas de rodapé explicativas eu apenas ignoro. nem nos livros atuais eu entendo todas as referências, porque preciso entender de livros mais velhos?

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depois, li olhos d'água, de conceição evaristo.
era um livro que estava sempre na ideia de "tenho que ler esse", mas eu nunca lia. minha irmã está fazendo no trabalho um clube do livro que as escolhas parecem bastante com "tenho que ler esse, mas nunca leio", então ela trouxe para casa e eu aproveitei para ler. eu não gostei. achei que nenhum conto é surpreendente. ele tem temas pesados, e não é um livro fácil de ser lido, não é divertido para sentar e ler ele inteiro de uma vez, mas não é esse o problema. eu não tenho problema com leituras densas e com temas pesados. esse ano eu já li becos da memória, que também traz alguns desses temas e desse eu gostei. o resumo de olhos d'água é que as pessoas vão morrer no final de todas as histórias. talvez naõ estivesse também no clima para esse.

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depois fiquei morrendo de preguiça de ler. ou não  tinha mais nenhum livro em mãos que eu estava morrendo de vontade de ler. esse mês eu tive bem pouco força de vontade de ler. e todas as leituras foram arrastadas. e todos livros muito bons. o que me faz chegar a conclusão que o problema era eu.

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aí eu li caixa 19, de claire louise-bennet. as primeiras palavras desse livro me trouxeram um sorriso ao rosto. é exatamente isso que eu queria. um montão de lugares comuns de quem gosta de ler. sim, todo mundo gosta de virar a página logo. sim, é gostoso demais meditar a existência do livro antes de ler, de fato; ler ele na cabeça antes de ler, imaginar, sentir tudo o que ele pode oferecer.

e aí ele ficou chato, extremamente chato. me arrastei por umas trinta páginas sem a menor vontade de ler.

e aí ele me entregou um afago de novo, com uma ela lista tudo o que leu e não leu. e eu amo de novo. essa sensação de que há muito, muito para se ler. que a gente nunca leu tudo o que importa no mundo, e nunca vai. não lemos aind nem tudo o que vai fazer parte de algo muito importante da gente, ainda não chegamos ali. eles estão ali, e a gente ainda não chegou ali. fico pensando como, com o passar dos anos, se torna mais difícil ter as referências importantes, todas. você sabe um pouco, por cima, de muitas coisas, e cada vez vão ter mais coisas para se saber um pouco, por cima. vai ser difícil. há muito a ser visto, e só o tempo de consumir todas as coisas que importam: já não temos muito, e aí precisamos escolher nossas referências, e quais a gente vai entrar mais a fundo, mas há muito, e nunca haverá tempo o suficiente. eu penso, com frequência, que deveria focar mais nessas coisas. mas as cosias que não são essas também ajudam a gente entender essas coisas, me sinto mal de não ter todas as referências certas. e, ainda, além de ter as referências, precisamos do tempo de usar elas para alguma coisa. criar algo. conversa de bar. não sei.

mas eu fiquei com vontade de ler todos os livros do mundo lendo esse livro. é um fato.

adoro quando ela fala que lia muito homens e do nada todos os livros eram de mulheres, sem um esforço. acho que isso é uma verdade, essa aproximação antural, eu não acho que algum homem tenha muito o que me falar.

Chegou uma hora não sei exatamente quando em que senti que já tinha lido minha cota de livros escritos por homens, pelo menos até então. Aconteceu de forma muito natural: não me lembro de decidir que tinha cansado e ia passar um tempo sem ler livros escritos por homens, só aconteceu que comecei a ler mais e mais livros escritos por mulheres e não me sobrava muito mais tempo pra ler livros escritos por homens. Ler livros escritos por mulheres ocupava todo o meu tempo e quando vi tinha se passado um ano e eu só tinha lido livros escritos por mulheres e outro ano passou e continuou igual, aí, muito de vez em quando, quase nunca, podia aparecer algo escrito por um homem, Jakob von Guten, do Robert Walser, por exemplo, mas eu continava lendo principalmente livros escritos por mulheres, e isso não mudou mais.

na época que estávamos quebrando todos os tabus tinham muitos clubes do livro, movimento em redes sociais e etc que falavam exatamente isso, e sempre apontavam de forma acusatória: quantos livros lidos por mulheres você leu esse ano? e aí eu fui contar, e meio que era metade/metade, a vida toda. ok que sempre fui uma grande leitora de romancinhos, livros que normalmente são mais femininos, mas mesmo esses, quando penso na adolescencia, muitos eram, sei lá, do john green. mas foi diminuindo. até os "livros importantes" pararam tanto de ser livros de homens, mesmo que a maioria dos clássicos de referência de tudo sejam escritos por homens. esse ano, dos 28 lidos até agora apenas sete ou oito foram escritos por homens. acho que é um movimento muito natural quando você se entende como pessoa, porque a experiência de vida é outra e é a coisa mais natural você buscar relações que façam mais sentido. mas é engraçado como isso é uma experiência quase universal da leitura. a gente cresce das "obrigações" para o que nos aproxima de nós mesmos.

mas o livro alterar entre fluxos muito bons e outros muitro ruins. demorei muito para ler, porque chegava numas partes muito arrastadas que, para mim, não iam. eu não sei gostei ou não dele, ser bem sincera.

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e é isso.

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