Como mais ou menos a maioria das pessoas que gostam de ler e tinham um blog anos atrás, em algum momento eu achei que seria escritora. Só porque eu tinha alguns leitores no blog, escrevia mais ou menos alguma coisinha que às vezes eu me orgulhava e um dia minha mãe elogiou um rascunho de um texto que ela achou no computador dela, eu seria escritora.
Poderia escrever poesias. Eu era bom nas poesias, eu achava. Poderia escrever contos. Um romance mesmo não tinha muita confiança, mas até tentei algumas vezes – obviamente que não chegando à lugar nenhum, nem nas fics que eu escrevia nos meus próprios blogs. Os fins eram ruins, eu nunca conseguia pensar em um final de verdade. Pessoas serem mortas ou morrerem? Muito básico. Nada acontecer? Eu amo livros que nada acontece, mas será que eu saberia fazer um livro que nada acontece? Em alguns momentos, achei que sim. Que uma coisa de fluxo de consciência, eu definitivamente conseguiria! Mas que fluxo? De que consciência? Eu era adolescente! E mesmo agora, dez anos depois, o que eu sei de relevante? Eu fico irritada quando alguém que claramente não tem nada a dizer tenta dizer algo.
De tempos em tempos eu falo: sim voltarei a escrever, de uma forma correta, sistematizada, tentando, de fato, dizer alguma coisa. Não três rabiscos num caderninho com um lápis de ponta tão grossa, já que nunca lembro de comprar um apontador e talvez seja hora de admitir que não, eu não prefiro apontar meus lapises com estilete, e a letra tão feia já que eu mesma tenho vergonha de algumas coisas que eu tenha a escrever. Também não sei escrever em cadernos. Eu queria. Notas de leituras, estudos, etc. A bem verdade é que não sei, nunca nada é relevante o suficiente ou eu acho que vou lembrar depois. O bom é que esqueço de ter esquecido, então fica tudo certo também.
Esse é um problema meu, e que eu sempre soube que era: vergonha. Não sei se é exatamente vergonha, mas é algo muito próximo. Insegurança, talvez? Eu acho que sim, insegurança. Nunca quero afirmar muito nada, porque pode ser muito pessoal, ou não quero afirmar muito nada porque claramente eu não sei do que estou falando, é uma coisa completamente do mundo das minhas ideias. E se alguém algum dia ler? E se eu morrer atropelada com meu caderninho na mochila e em busca de algum contato descobrirem meu medo de nunca ser amada de forma correspondente ou sobre meus problemas com meu corpo?
Odeio que as pessoas leiam o que eu escrevi, porque também tenho receio que não entendam o que sou eu e o que não é. E o que eu quis omitir de propósito. E que vejam coisas que não foram ditas, mas deveriam ter sido. Toda vez que me vejo na situação de ser lida eu me sinto muito mais vulnerável do que eu gostaria. Na exposição do meu tcc, na vez que levei uma poesia pra sala de aula como trabalho (meio vergonhoso escolher escrever uma poesia como trabalho por si, mas tudo bem), quando alguém disse que leu algo que eu escrevi. Eu tenho medo e vergonha e todo tipo de insegurança possível. Eu deveria ter feito melhor. Sempre.
Então em um momento eu só descobri que eu não seria escritora. Ainda bem. Porque eu gosto de escrever como um momento de pensar, e as coisas não são muito organizadas e não pretendem nada. De quando em quando eu redescubro o prazer de escrever, já que é só por escrever.
Mas ainda, de vez em quando, eu penso que eu poderia escrever um livro. como qualquer outra pessoa que gosta de ler e já em algum momento achou que sabia escrever.
Nenhum comentário:
Postar um comentário