minha coisa preferida no mundo é fazer algo bonito. e gosto de viver de tudo o que é estético e prazeroso. e isso parece meio óbvio, porque, acredito eu, todo mundo gosta disso. mas eu sinto que esse é o único propósito da minha vida: consumir coisas bonitas, ler, ver filmes, ver arte, comer coisas gostosas, fazer coisas bonitas, como artesanato ou escrever, produzir, de certa forma, qualquer coisa e viver coisas bonitas, as noites, as festas, as caminhadas na cidade.
me afastar disso é me afastar de mim mesma. e ano passado eu me perdi muito.
terminar meu tcc, que, acredito eu, foi a última coisa bonita que produzi, não foi um processo muito tranquilo. o trabalho em si foi. foi gostoso de fazer as fotos, as entrevistas, escolher os trechos, pensar um fio que ligasse tudo. eu acho que é um trabalho muito falho, que hoje eu iria fazer de uma forma muito melhor, mas que, naquele momento, eu amei fazer. mas a ambientação em que eu estava fazendo ele, não. o fim da graduação, a incerteza se eu ia continuar tendo algum trabalho, a responsabilidade de ter um trabalho, os ciclos de amizades que se encerraram – não as amizades, mas o fio do cotidiano, dos objetivos comuns, de esperar pelas mesmas coisas e a ligação com o mesmo território –, os espaços que não faria mais sentido eu estar... emocionalmente eu fiquei bastante abalada nessa reta final de graduação. e após terminar eu queria um descanso, meio de tudo. fiquei alguns meses na deriva, indo para o trabalho, tentando fazer algo das minhas tardes. até que deu disso. e aí foi um tempo de me organizar, de criar outros planos, de traçar um outro futuro. e eu acho que consegui. tenho um trabalho na área, apesar de obviamente não ser a minha pretensão salarial para os próximos anos, nem para exatamente para os próximos meses, mas que me permite pagar uma pós graduação, que comecei em outubro do ano passado, que é mais um dos meios para os fins de continuar estudando, pagar a academia, que é muito importante tanto para a minha relação com meu corpo, que não é nem muito estável e nem muito boa, quanto pra minha cabeça, e viver as coisas que quero – obviamente, morando com minha mãe essa coisa toda. mas organizar isso levou uma parte de mim importante, que são as coisas bonitas.
eu sou apaixonada por arquitetura. eu sempre amei. eu sempre olhei projetos, sempre gostei de visitar lugares, e essa coisa toda. eu sou apaixonada por arte, por literatura, por música. eu sempre amei moda. mas nesse tempo de me organizar para voltar a ter um objetivo de novo eu meio que esqueci de tudo isso. tanto no consumo de coisas, quanto no criar. o fato de eu gastar, sim, muito tempo em redes sociais, principalmente tiktok, gera a falsa sensação de que eu estou sim vendo muitas coisas, e muitas coisas legais! e inclusive, às vezes, o sentimento de que já vi tudo e não tem nada mais muito legal para eu ver. o que é, obviamente, mentira. é claro que, sim, eu vejo muita coisa legal, muita referência, o trabalho de muita gente, indicações incríveis de filmes e livros, mas não é o suficiente. e não é por vários motivos. porque eu tiro um print pra ver mais sobre depois, e nunca volto pra ele. porque em algum momento todo mundo está vendo fazendo lendo a mesma coisa, então é só isso que aparece. e nem sempre é uma indicação realmente boa. e também porque o algoritmo, né. tem certas coisas que você precisa estar em outros lugares para de fato acessar. então buscar essas coisas fora dum lugar que, de certa forma, é projetado para que ou você só receba mais do que você já consome ou algo que muitas pessoas tenham consumido.
outra coisa que parei para pensar sobre isso, é que o fato de ver tantas pessoas fazendo tantas coisas meio que parece que eu mesma estou fazendo. então enquanto olho milhões de vídeos de pessoas fazendo algo, eu meio que sinto que eu já fiz, mas não do jeito bom, mas de um jeito que a ideia me cansa rápido. aí eu não faço, perco a vontade. só de ficar vendo me enche. mas não com a experiência, com o tátil, mas com a possibilidade. tudo é possibilidade. eu poderia tudo. e no fim, não faço nada.
nesse tempo, principalmente no pós pandemia, uma coisa que fez, e faz, muito sentido pra mim nesse sentido era ir pra festas, sair, essas coisas. muito se critica querer ir pra festa todo fim de semana, gastar com isso, e etc etc etc. mas sinceramente? é um momento de expressão tão importante. obviamente pra quem gosta. e eu gosto. escolher como vai se vestir, gastar esse tempo pensando nisso. o modo de se vestir que inclusive não precisa se adequar à muitas coisas. dançar. conversar. conversar os maiores absurdos. mentir um pouquinho. não só é divertido demais, como, e podem dizer que não, há esse espaço de criação. há esse espaço de usar todas as coisas bonitas já feitas e pensadas antes, de um jeito autêntico que nem precisa ser verdadeiro. o espaço de celebração é um espaço de criação também, e isso foi uma coisa muito importante, que me moveu e move.
um tanto de eu ter chego num ponto tão baixo que eu acho que preciso fazer mais coisas por mim e procurar outros locais de referências é também fato de eu não ter essa troca com pessoas com maior frequência. no caso, o momento que estou fora se tornou o único momento de socialização para, de fato, falar alguma coisa de meu interesse. fora isso, toda a minha socialização com pessoas são definidas em família, que querendo ou não tem uma imagem sua e não estão tão afim assim de ouvir sobre suas ideias, ou trabalho, que, no meu caso, não tem muita gente, então não tem muito o que falar. também dos ambientes que eu vivo. o escritório que eu trabalho e minha academia ficam no mesmo bairro que eu moro, e na mesma direção. eu ando pelos mesmos lugares, vejo os mesmos movimentos do cotidiano todos os dias. assim, eu passo minha semana para a existência do fim de semana, para, talvez, sair. e isso tem me deprimido meio que muito.
meio que considerando que organizei tudo na minha cabeça nos últimos meses, e que agora estou com uma rotina de trabalho-estudo-exercício físico-boa alimentação-etc bem organizada, eu, e o tarô concordou comigo, precisava procurar outras coisas que tanto agregassem nesse "plano de ação", quanto me preenchessem quanto pessoa. essa organização foi muito importante para tirar o sentimento de estar num limbo, de ser um fracasso enorme, mesmo que ainda me sinta um fracasso. eu tenho um objetivo. eu tenho plano. e eu estou executando isso tudo, de formas simples, não é nada drástico, nada é um grande momento de revelação, ou qualquer coisa assim. são pequenas coisas no meu dia a dia.
uma delas é que eu resolvi assinar revistas. enfim. esses dias eu estava pensando como eu só comecei a escrever por causa de uma revistinha infantil que vinha junto com a revista família cristã, que meus pais assinavam para mim e para minha irmã. um mês teve uma matéria sobre um menino que tinha um blog. e a gente amou a ideia. e aí meio que tudo o que eu desenvolvi enquanto criança e adolescente foi por causa dessa história de blog. os gostos que eu desenvolvi definitivamente foram por causa do mundo que eu vivenciei online nessa época. posso estar errada, porque eu era uma criança/adolescente muito online. jogava quase todos os joguinhos de mundo virtual. também meu incentivo a certas coisas, como leitura, não veio da minha vida online. mas definitivamente as escolhas quanto a certas coisas, eu acho que sim. e acho que é um pouco isso que eu tô procurando, achar alguma coisa por acaso que faça eu me apaixonar por algo. fora do meu controle. acho que um pouco sobre tudo essa afirmação é verdade, mas aqui falo principalmente de redescobrir a área que resolvi estudar e trabalhar, que eu de fato amo. mas desde que me formei eu nunca mais olhei um projeto, pesquisei alguma coisa interessante sobre. tudo é voltado ou para o que preciso no trabalho – e não são projetos muito interessantes, eu faço, basicamente, planta e desenho técnico do projeto já pronto, então não tem TANTAS escolhas legais em minhas mãos –, ou pra fazer alguma prova, tipo concurso. ler norma técnica é muito importante e interessante mas não é bem isso que desperta qualquer paixão.
outra coisa que sempre foi uma paixão para mim, uma grande jogadora de stardoll, é moda. mas nos últimos tempos, além de ter me perdido um pouco no que eu gosto, até porque meu corpo passou por instabilidades nos últimos tempos que eu só consegui de certa forma estabilizar agora, e também uma mudança de fase na minha vida, eu também parei de simplesmente me importar muito. mas não gostaria. eu sempre quis aprender a costurar. e eu posso ter uma máquina de costura também. a qualquer momento. ainda não consigo pensar onde guardar ela. onde usar ela. a coisa é que costurar faz bagunça. faz sugeira. exige lugar pra guardar as coisas, pra trabalhar, pra deixar os projetos em andamento. um pouco de investimento pra coisas que vão dar completamente errado enquanto aprendo... mas eu tenho ideias. muitas ideias.
o problema é que quase tudo exige espaço. eu não tenho espaço.
enfim, eu tinha muitas coisas para escrever, mas ao longo dos dias meio que fui covnersando demais comigo mesma. e aí eu meio que perdi todas as coisas que eu queria escrever. mas eu não estou exatamente feliz. mas eu estou tentando ficar muito feliz. e é isso.