quinta-feira, 30 de abril de 2020

estantes

construir uma biblioteca não é tão fácil quanto pensei um dia. não é simplesmente colocar ali todos os livros que quiser. é um processo eterno de curadoria, de quem se foi e é. apesar do volume fazer bem e ser belo, e ser desejado, ele nada diz se o que dá essa visual não condiz. então retiramos o que hoje, se se mantém, se estraga. e deixa ir. exercício de deixar ir. e um por um eu penso: essa história, eu ainda quero contar essa história? e deixo ir. tem que deixar ir.

o que eu quero acrescentar? o que vale a pena acrescentar? uma bela capa, uma bela edição, requisitos básicas para eu querer o físico antes de conhecer a história, e depois a história. e construir a biblioteca de histórias, e não de livros.

tudo deve ser lido. sem acúmulos desnecessários, acúmulos pra volume, pra conforto, pra aparência. não gosto de justificar coisas injustificáveis. só o que é lido, o que foi uma experiência, nem sempre boa, mas uma experiência.

e deixar ir.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

eu não gosto de verbos no infinitivo
eu não gosto da pessoalidade de frases começadas com pronomes
eu só sei escrever dessa forma

e odeio o que produzo

*

espero que entendam que fui eu que fiz
e o resto foi feito depois

quarta-feira, 8 de abril de 2020

privacidade que é também estar fora
e muitos
indiferença e desconhecido

pressão da vida doméstica
esmagador
colapso
demasiado tempo
demasiado nada
demasiado desinteresse
interesse demais

o momento sozinho de ser
o ser sozinho social
o social ser
ser que parece não existir
ao se diluir
pelas paredes
os móveis
o sofá

e de repente apenas um vasinho de flores murchas
os restos do ser dentro da vida doméstica

segunda-feira, 6 de abril de 2020

diluindo pouco a pouco nos móveis do lugar que moro
não existe existir sem os outros; os outros sou eu
só queria não me misturar ao lugar onde tenho que ficar
quando acho que fiquei a vida toda aqui

era hora de outra coisa
e agora é coisa nenhuma