sábado, 25 de julho de 2020

quais eram as coisas que eu costumava fazer pra me reconectar comigo mesma?
não sei, e sinceramente, duvido que ainda funcionem.

lembro de escrever, e longamente. hoje não escrevo, e se sim, brevemente. sou mais breve no ser? sou mais sintética? sintetizei tanto até me tornar nada? até não me tornar?

lembro de ler o mesmo livro, várias vezes. por que eu não leio mais ele?

lembro de ouvir as mesmas músicas, por que não ouço mais nada?

quem é essa que sou, me questiono. não há resposta, nunca houve. mas parecia haver, ou pelo menos um caminho pra seguir.

agora é palavra espaço espaço espaço

em branco
em preto
luz e sombra

espaço em vermelho
espaço em cor de terra
terra tem tanta cor

é luz e sombra

e ainda sou sintética, sem cor de terra, sem cor nenhuma e desboto nos dias que continuam seguindo enquanto não faço parte.

não pertenço.

mas também não há para onde correr.

reconectar comigo é preciso saber quem são os outros. eu não sei onde eles estão.
eu já me diminuí ao que sou. preciso expandir para além.

ser luz e sombra

sábado, 18 de julho de 2020

jun 15

espaço cor textura
construção de caixas
que separam a gente
da contemplação que tortura

terça-feira, 7 de julho de 2020

desinteresse de tudo: uma volta em pensamento sem começo ou fim sobre os tempos de quarentena de uma pessoa que não sai de casa há quatro meses


Todas as coisas desinteressam.

Isso é um fato, depois de tanto tempo trancada dentro de casa.

Tem aquela coisa, a gente faz as coisas para os outros verem, coisas que não sejam sobre a gente. Tudo o que foge a me atender no momento, me desinteressa. Tenho lido, tenho pesquisado, tenho experimentado na cozinha; isso me deixa feliz, isso me atende no momento. Não tenho mais medo de panela de pressão. Pesquisei um pouco mais sobre porque tomate não é tão bom comer todo dia (junto com pimentão, batatinha e berinjela...). Descobri que possivelmente não acertarei meu pão árabe de primeira. Tenho tido um grande controle de quantidade de comida, pra nem sobrar nem faltar, e também de tempo na cozinha.

Isso me faz feliz.

Talvez mais pra frente eu pense que nunca terei tanto tempo assim na vida e pense como desperdicei. Mas eu não tenho nenhuma disposição para outras coisas.

Sempre sonhei com um momento que eu sentaria e leria um livro atrás do outro pois não há muitas outras coisas pra se preocupar. E esse período seria quase isso. Com a diferença que há muitas coisas com o que se preocupar, embora eu individualmente não consiga resolver nenhuma delas; só me resta ficar esse tempo todo trancada dentro de casa, comigo mesma. E com meu desinteresse por tudo. Eu definitivamente não consigo ler um livro atrás do outro.

Meu desinteresse por tudo é tanto que chegamos aqui e eu já dispersei. Já não quero mais escrever. Mas também não sei o que eu quero fazer. Não quero jogar. Não quero ler. Não quero assistir novela. Então vou falar de uma experimentação de ontem. Resolvi colocar tapioca na massa de um bolinho que fiz com o resto do refogado de grão de bico com cenoura. E, parece bastante óbvio agora, mas na hora eu estava com medo de não dar certo, mas dá muito certo, e (pois é isso também é um pouco óbvio...) ficou com uma textura de pão de queijo. Com grão de bico. Na massa só farinha de trigo, tapioca, água, sal e o refogadinho. Ficou legal. Coisas para se fazer outra vez.

**

Nessa coisa de desinteressar surge também o surto do preciso produzir. Preciso aproveitar, assim como os outros, e terminar esse período cheia de coisas novas pra colocar em prática e ser a pessoa mais produtiva do mundo. Eu sei que produção é uma qualidade positiva criada pelo capitalismo, e que fora dele nem é tão urgente assim, faça o necessário, não precisa exceder, você não vai ser o melhor mesmo, não há necessidade de ser o melhor, pra que se desgastar? O que você ganha com isso? Absolutamente nada. Mas eu também gostaria muito de ser produtiva. De aprender alguma coisa nova e dizer olha eu aprendi alguma coisa nova.

Dizer pra quem? Não tem ninguém pra contar.

Não tem ninguém em volta, Eduarda.

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Reli um texto meu de um tempo atrás, quando eu era uma adolescente (eu odeio essa palavra, não há um menos ruim pra expressar esse período de vida? É uma palavra muito feia) de Chanel com franja e camiseta dos Beatles, que gostava de chuva, café e livros, onde eu falava que gostava de não existir, de ter esse tempo de despreocupação com os outros. E isso é verdade. Quando você tá saturado dos outros, de todo dia lidar com gente e com tudo o que envolve gente, esses escapes são preciosos, são incríveis. Existir por você. Fazer as coisas por você. Mas nesse extremo, acho que nem a Eduarda de Chanel e franja e camiseta dos Beatles, chuva, café e livros, iria achar legal. Até ela ia falar, ok, eu admito, eu gosto de pessoas, eu gosto de estar com pessoas, eu preciso conversar e interagir com pessoas de forma real! Eu gosto de me vestir, eu gosto de aprender coisas para conviver, pertencer, existir – e as vezes, porque não, pra me exibir um pouco – com os outros e eu gosto que as pessoas troquem comigo também. Eu gosto que os outros falem sobre mim, eu gosto de falar sobre mim, eu gosto de ouvir os outros falarem sobre eles também. Ninguém merece tanto tempo assim ficar sem os outros – se for uma escolha pessoal, talvez, mas definitivamente não é uma escolha pessoal agora.

Para algumas pessoas ainda é, pois elas querem que os outros se fodam. Mas pra mim não é.

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E agora eu dispersei mesmo, não há muitos assuntos do meu interesse para eu escrever.  Então esse surto de sentar e escrever também acaba aqui, porque não há temas o suficiente, não há vontade o suficiente, e não há interesse. Nenhum interesse, em coisa nenhuma.

Menos tomar café, mate e chá, e cozinhar. No fim o que sobra é a sobrevivência mesmo.