quarta-feira, 17 de novembro de 2021

visão das coisas que não acontecem

mas isso é puro problema meu

que não sei o que quero

ou acho que sei demais o que quero

que quero demais

e não posso ter


mas projeto o problema como se fosse dos outros

– com os outros.

***

talvez eu esteja bem assim.

acho que estou

enquanto não estou, as coisas andam 

e andam bem


por que continuo reclamando?

sábado, 9 de outubro de 2021

fico o tempo todo esperando coisas que não posso consertar darem errado para que eu não seja responsável por não ir para lugar nenhum. 

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

geladeira

 a laranja 
que não estava doce
que foi sendo deixada
não ficou doce
ficou menos doce
ficou negligenciada
tempo demais
e ficou murcha
e aos poucos marrom
e eram mais de uma laranja
deixadas
causando cada vez mais mal estar

um dia as laranjas foram jogadas no lixo
ninguém se importa mais se elas não estavam doces
agora elas são problema de outras pessoas

sábado, 17 de julho de 2021

eu tive esse sonho, esses dias. você era você, mas definitivamente não era. agia estranho, de um jeito que eu tenho certeza que você não agiria normalmente. eu era eu, e definitivamente era. e eu agiria daquele jeito se você agisse daquele jeito que você não agiria.

eu tive esse sonho, e nele tocava algo que eu deveria reconhecer, mas depois que eu acordei, eu não lembrava. mas queria me dizer qualquer coisa. ainda tento lembrar o que era. mas eu não consigo; a mensagem foi perdida.

e teve esse sonho, que me lembrou de algo que já sonhei. e agora é uma ideia, com a mesma estranheza de tudo acontecendo nele. uma mensagem perdida. só não tenho certeza se é porque eu sou a mesma, e tudo mudou, ou se tudo mudou, e eu também, mesmo sendo o mesmo símbolo.

procura contínua

pior ainda quando procuro no tempo que sei impossível

um pouco de alívio, um pouco de talvez

mesmo que saiba que não


procuro e procuro sei que não acharei

procuro e procuro e sei que foi perdido

e penso que para todo o sempre

e penso que eu nem quero mais achar.

domingo, 11 de julho de 2021

procuro e procuro e procuro por algo que sei que não vou encontrar

e fantasio sobre como seria estar

e mesmo sabendo dessa ausência, mesmo sabendo dessa indisponibilidade

eu continuo procurando em todo lugar

segunda-feira, 12 de abril de 2021

aguardando

estou aguardando emails. esse é o meu estado. estou há dias apenas aguardando emails, que sem eles eu até posso continuar, mas seria muito melhor se eles chegassem. a reunião foi confirmada? o material pro trabalho vai ser enviado? meus livros, após uma semana, enfim foram enviados?

a questão do livro é a primeira a ser colocada em segundo plano. eu entendo que comprei direto da editora e não na amazon e que provavelmente eles podem estar fazendo apenas um dia de postagens pois estamos no meio da pandemia e etc etc etc. mas minha vida de coisas instantâneas pede que, por favor, me enviem. eu clamo.

a questão da reunião me é preocupante. já havia respondido que poderia num horário, mas só recebi outros horários, recebi que podia no horário, e ele no caso é hoje, e no caso não recebi nenhuma confirmação. eu odeio o uso do zap pra resolver essas questões, eu gosto de poder ignorá-las e tudo mais. mas nesse momento, sabe, era um dedo positivo. não vou simplesmente chegar na chamada.

a questão do material é uma reunião que eu marquei pra quase o mesmo horário da reunião que não foi 100% confirmada. a professora ia mandar mais uns materiais pra gente ver. mas a entrega é quinta. acho que teremos que trabalhar com o que temos. também não tive confirmação de recebimento de atividades. nem devolutivas.

e isso é essa semana, aguardando os próximos capítulos da vida universitária que não tem emails respondidos. não que os livros sejam pra isso, mas atrapalham meu desempenho também.

**

tenho um montão de coisa pra estudar mas como acordei com todas as dores menstruais, não estou me sentindo muito feliz. finalmente choveu na fronteira e o clima está agradável, então além de colorida estou preguiçosa. as galinhas cantam, os carros passam nas importantes vias que estão ao oeste e leste do meu apartamento, eu aguardo emails, não faço nada, enquanto bebo um cafezinho. calma mundo, ainda estou acordando.

incapacidade

queria dispensar os temas comuns a esse período, mas o que sobraria? nada. os desesperos são os mesmo, para todos, e ainda assim, é tão difícil aceitar. não quero ter um bom desempenho enquanto o mundo vive isso tudo.

parei o feriado para descansar. eu realmente precisava; na semana anterior, estudei todo dia, inclusive sábado e domingo, essa semana passada resolvi pegar mais leve. saí para conversar com um amigo que foi embora da cidade, li um livro segundo meu interesse, não li nada da faculdade por dois dias, saí mais cedo da aula, dormi, e muito. só fiz isso porque não estava mais funcionando, bem verdade. as frases já saiam perdidas, os documentos de trabalhos estavam se bagunçando sem eu nem mesmo saber como, meu corpo estava reagindo mal a tudo o que eu comia (e longe da alimentação não estar boa ou qualquer coisa), o sono começou a ficar mais difícil e conturbado. se não fosse assim, teria seguido.

nunca fui uma pessoa de ter que fazer tudo e fazer tudo bem. sempre admiti que sou bem vagabunda mesmo. mas mesmo que você seja essa pessoa, que admite que não seja a melhor e que não faça tudo, é muito difícil parar.

hoje uma (das três) aula foi cancelada. e em vez de estudar falei, vou ficar a toa. ainda tenho aula até as dez da noite, então vou aproveitar. mas como é difícil. acabou a cota de tempo livre ontem, hoje eu preciso voltar. eu tenho muitas coisas pra fazer. mas hoje eu também tive mais uma prova da minha instabilidade emocional. você não pode ignorar isso. mas deve.

me sinto incapaz de seguir o ritmo. me vejo questionando se eu não deveria escolher outro curso, esse é pesado e perfeccionista demais pra mim. aparentemente, sou a única que não aguenta o tranco.

me sinto incapaz de achar algo bom nesse tempo. parece que sou a única estagnada. me sinto invisível. sinto meu andar devagar demais, menos que de todos. como constantemente tenho falado, não me sinto. não sou. não ser por tanto tempo, não ser trancada em casa em eternos dias de notícias ruins e pesadas... não há chocolatinho e cervejinha que acalente o coração. o açúcar e o álcool são desconfortáveis e aumentam o vasto vazio do não estar.

**

esse texto pretendia ser terminado, mas a vida veio e ele nunca foi. coisas que sou incapaz: terminar um texto.

sexta-feira, 19 de março de 2021

eu só não sou essa pessoa... (o relato cansado de uma pessoa cansada de se diminuir por não ser outra pessoa)

 um ano isolada em casa. o que mais me incomoda é que eu vejo as pessoas, e elas fazem tantas coisas, enquanto eu estou estagnada. uso as mesmas três roupas (feias) todo dia, leio muito romance de qualidade duvidosa, não escuto mais uma música nova, e estou perdida em mim. é desconfortável, muito desconfortável. além disso, não sou de expor minha vida, então olhar a vida bonita dos outros, mesmo quando sei que nem é uma vida bonita, me deixa absolutamente

mal.


eu olho pros outros e penso nossa sou eu tão nada, invisível de tudo? no momento sou, sim. isso não deveria ser uma alegria? liberta? não me sinto assim, me sinto nada. não sinto. estou cansada. sim, essa é a mesma ladainha de sempre da vida pandêmica. cansaço. inexistência. impotência. mas é isso. porque além de tudo eu preciso ficar falando pra mim mesma, o tempo todo, que eu não sou essa pessoa.

sim, as pessoas saem, e elas fazem coisas. eu não, estou trancada. sim, as pessoas são diferentes de mim, e elas fazem e se expõem de formas distintas. eu não sou essas pessoas. e não há porque eu ficar achando que isso é um problema. eu

não

sou

essa

pessoa

e não preciso me desculpar por isso. não sou mais. não sou menos. apenas não sou. e eu estou cansada disso tudo.

segunda-feira, 8 de março de 2021

o sol
a luz
do céu

a luz
do céu
vem do sol

a lua
ilumina o céu,
o sol
ilumina a lua

estrelas
você
luzes que me iluminam;

embora eu tenha luz
própria e intensa,
me acendem.
é difícil
e eu já tentei excluir de tudo
de tudo o que já pensei
e já foi e então foi embora
mas eu permaneço.

eu sempre permaneço

não pertenço
sozinha.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

essa ânsia de te encontrar na minha cidade

sua cidade

encontrar em qualquer lugar mesmo esperando que não esteja

mesmo que o desencontro tenha sido definido desde sempre

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

eu acho que a coisa mais difícil desde março tem sido ficar dentro de casa com uma criança. nunca fui muito fã de crianças, e a minha criança não é diferente.

não durmo muito bem há dias, estou esperando esse momento passar e dormir belamente novamente, e somado ao fato de estar sem nada muito interessante na vida desde março, onde tudo é previsível até demais, eu estou emocionalmente instável.

brigamos agora pouco na cozinha por uma fruta. ela não sabia que fruta era e como abrir. mas veja, ela tem nove anos, e era uma mexerica, que tem um puta cheiro forte. e ela tentava descascar com um descascador de legumes. não sem antes ter feito um enorme drama sobre não conseguir abrir a fruta. então eu peguei o descascador de legumes e joguei na pia; essa cena toda, esse drama todo por absolutamente nada, meu deus, eu não aguento mais. então, ela pegou uma faca, que não corta essas coisas, pois são aquelas facas de refeição que a serrinha não serve pra muita coisa, mutilou a fruta, deixou uma meleca na pia, e saiu choramingando, novamente.

tudo é seguido de um choramingo. de um exagero. de um drama desnecessário. e todo mundo, dentro desse limite que atingimos de simplesmente estar, todos, ocupando esse espaço, entramos nesse exagero, nessa irritação, nesse drama.

**

gostaria de descobrir como é existir no silêncio novamente. das poucas vezes que saí para fazer algo sozinha, pegar um ônibus, fiz questão de sair mais cedo do que precisava, só pra passar esses dez minutinhos ali, contemplando o existir, a inutilidade de tudo, mas em silêncio, sem compromisso. estar numa casa com outras pessoas, e todas serem dependentes de todas, faz tudo ser parte do dia do outro. qualquer passo diferente é motivo de questionamento. existir fora dos padrões estabelecidos é uma infração; minha insônia é problema de todo mundo.

penso, então, em ficar essas horas existindo, ler alguma coisa, não sei. mas isso é difícil. se eu não vou dormir, duas, três horinhas, que seja, de noite, eu não vou poder dormir hora outra nenhuma. também porque o menor ruído é motivo de apontamento. e, sinceramente, eu não posso fazer nada. é o ciclo da madrugada não dormida, ter sede, beber água, ter vontade de ir no banheiro, o ar condicionado desligar, o  quarto ficar quente, ligar o ar condicionado, ter sede, beber água, o cachorro rosnar....

neste momento, até o cachorro é um problema. eu amo ele, demais. mas eu só queria que ele não deitasse na minha cama, que ele não tentasse me morder ao querer entrar/sair do meu quarto. e me sinto mal, com tanto tempo disponível, eu não brincar e fazer mais carinho nele. aí, acho que não queria ele.

responsabilidade é um grande problema. e eu, nos meus quase vinte anos, não queria estar trancada dentro de casa sendo tão responsável por tudo o que acontece aqui dentro, pois é impossível não ser.

esses exageros do dia a dia trancada, que são causados pelas ausências. 

eu não vejo a hora de olhar isso tudo, como passado, existindo com outras perspectivas, em outros lugares.