segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

escrever um texto sobre 2020 e tentar não ser chata

já foi escrito tanto sobre 2020 que esse ano eu não estava, diferente de todos os anos da minha vida desde que escrevo, animada para o texto desse ano. ano passado foi um texto péssimo, mas foi algo, e por trás dele, houveram diversos rascunhos. esse ano eu tô mais pela obrigação mesmo.

eu estou esgotada. triste. desanimada. sem perspectiva nenhuma. eu não me aguento, eu não aguento a minha vida, e não consigo ver luz nenhuma no fim do túnel. não foi um ano de auto conhecimento e ver o que realmente importa. eu já sabia que eu era insuportável de conviver. eu já sabia que tomar café no sol com os amigos e chipa do terminal é o que realmente importa. eu não aguento mais minha unha super frágil, eu não aguento mais a vida doméstica, e eu não me aguento mais. acabou toda a minha energia mental de fazer coisas e toda a minha empatia com gente babaca. 

mas eu aprendi a fazer pizza, e nossa, é uma pizza excelente.

**

me perdi em quem eu sou e e me achei de novo sabendo que não sou ninguém, auto estima lá embaixo, eu detesto tudo. e todos.

preciso fingir um pouco que estou feliz pelos acontecimentos da vida dos outros, mas a verdade é que desejo que todo mundo que tá fazendo algo porque quer de legal tenha algo ruim por trás. não é um sentimento legal, sempre fui uma pessoa que realmente aprecia as vitórias das pessoas, mas esse ano, quero que vão todos tomar no cu.

não aguento estar parada há tanto tempo, podendo contar nos dedos as pessoas e lugares diferentes que convivi. 

eu só não aguento mais. não aguento mesmo. quero que todo mundo vá se foder. não aguento mais estar no limite do não existir, da extrema irrelevância. eu não aguento mais não andar por aí. não aguento mais usar roupas feias. eu não aguento mais não aguento mais não aguento mais

**

talvez eu tenha descoberto que sou uma pessoa odiável. mas acho que eu já sabia. e eu não me culpo.

feliz 2021, que vai ser também uma grande porcaria.


com tentar não ser chata eu queria dizer não falar sobre novas perspectivas, visões diferentes do mundo, novo normal, etc. chata não tem como não ser. olha só essa coisa toda. e eu tô no brasil!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

eu observo de longe e tudo parece feliz. eu não estou muito.
de longe parece tudo feliz, eu incluso.
e falo tanto e tanto de tempo que vai melhorar
o tanto de tempo que já passou e não melhorou
acho que preciso de uma nova desculpa pra me agarrar.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

ciclos

 tudo o que não é feito por mim

e eu sinto que deveria ter feito

tudo o que não é sentido por mim

e eu acho que deveria sentir

tudo o que eu acho

e não é

terça-feira, 6 de outubro de 2020

agora além do sentimento de vazio tem o de ter ficado pra trás, que vem do vazio

então não aconteceu nada

e o que sobrou? não muita coisa, teremos que reconstruir algo

e na verdade tá tudo bem por hora

sábado, 15 de agosto de 2020

eu não vou ficar bem
pois eu espero não ficar




aqui

as coisas aqui dentro de casa

detalhes da paisagem que pouco reparo

se tornaram padrão mesmo depois de uma revisada fora do padrão

ter que conviver com isso todo dia e fingir que é novidade

achar as novidades e fingir que elas bastam


nada basta

é tempo perdido 

é perder tempo


e eu volto no tempo

quando nada era perder tempo

não existia contagem regressiva, não existia outra opção

mas agora


evolução

estética


é tudo passageiro

tudo passou

ninguém viu

nem eu

me mantive no cinza concretado.

imaginação não é ser

sou nada

dias que somem

palavras perdidas


não organizo para entender além

organizo pra entender dentro

e dentro já foi organizado e desorganizado tantas vezes que eu já nem sei como está agora


ou não está

dias de nada

deixa eu ser alguma outra pessoa

nesses dias de nada

conhecer novas pessoas

nesses dias de nada

me apaixonar por alguém

nesses dias de nada

sentir tudo isso em movimento

em dias de algo


do que adianta intensidade 

não tem contraste

(não que eu seja de contrastes)

são dias de nada

e eles têm que ser vividos, um de cada vez


paciência

nesses dias de nada

sem drama; é melhor que muito drama

mas ainda

vazio

sábado, 1 de agosto de 2020

quem sou eu quando não sou nada e me diluo no não ser de dias que são todos iguais eles são acredito que eu também sou mas nada é nada tem bordas e se diluem em todos os ser que são infinitos e sem data pra acabar

sábado, 25 de julho de 2020

quais eram as coisas que eu costumava fazer pra me reconectar comigo mesma?
não sei, e sinceramente, duvido que ainda funcionem.

lembro de escrever, e longamente. hoje não escrevo, e se sim, brevemente. sou mais breve no ser? sou mais sintética? sintetizei tanto até me tornar nada? até não me tornar?

lembro de ler o mesmo livro, várias vezes. por que eu não leio mais ele?

lembro de ouvir as mesmas músicas, por que não ouço mais nada?

quem é essa que sou, me questiono. não há resposta, nunca houve. mas parecia haver, ou pelo menos um caminho pra seguir.

agora é palavra espaço espaço espaço

em branco
em preto
luz e sombra

espaço em vermelho
espaço em cor de terra
terra tem tanta cor

é luz e sombra

e ainda sou sintética, sem cor de terra, sem cor nenhuma e desboto nos dias que continuam seguindo enquanto não faço parte.

não pertenço.

mas também não há para onde correr.

reconectar comigo é preciso saber quem são os outros. eu não sei onde eles estão.
eu já me diminuí ao que sou. preciso expandir para além.

ser luz e sombra

sábado, 18 de julho de 2020

jun 15

espaço cor textura
construção de caixas
que separam a gente
da contemplação que tortura

terça-feira, 7 de julho de 2020

desinteresse de tudo: uma volta em pensamento sem começo ou fim sobre os tempos de quarentena de uma pessoa que não sai de casa há quatro meses


Todas as coisas desinteressam.

Isso é um fato, depois de tanto tempo trancada dentro de casa.

Tem aquela coisa, a gente faz as coisas para os outros verem, coisas que não sejam sobre a gente. Tudo o que foge a me atender no momento, me desinteressa. Tenho lido, tenho pesquisado, tenho experimentado na cozinha; isso me deixa feliz, isso me atende no momento. Não tenho mais medo de panela de pressão. Pesquisei um pouco mais sobre porque tomate não é tão bom comer todo dia (junto com pimentão, batatinha e berinjela...). Descobri que possivelmente não acertarei meu pão árabe de primeira. Tenho tido um grande controle de quantidade de comida, pra nem sobrar nem faltar, e também de tempo na cozinha.

Isso me faz feliz.

Talvez mais pra frente eu pense que nunca terei tanto tempo assim na vida e pense como desperdicei. Mas eu não tenho nenhuma disposição para outras coisas.

Sempre sonhei com um momento que eu sentaria e leria um livro atrás do outro pois não há muitas outras coisas pra se preocupar. E esse período seria quase isso. Com a diferença que há muitas coisas com o que se preocupar, embora eu individualmente não consiga resolver nenhuma delas; só me resta ficar esse tempo todo trancada dentro de casa, comigo mesma. E com meu desinteresse por tudo. Eu definitivamente não consigo ler um livro atrás do outro.

Meu desinteresse por tudo é tanto que chegamos aqui e eu já dispersei. Já não quero mais escrever. Mas também não sei o que eu quero fazer. Não quero jogar. Não quero ler. Não quero assistir novela. Então vou falar de uma experimentação de ontem. Resolvi colocar tapioca na massa de um bolinho que fiz com o resto do refogado de grão de bico com cenoura. E, parece bastante óbvio agora, mas na hora eu estava com medo de não dar certo, mas dá muito certo, e (pois é isso também é um pouco óbvio...) ficou com uma textura de pão de queijo. Com grão de bico. Na massa só farinha de trigo, tapioca, água, sal e o refogadinho. Ficou legal. Coisas para se fazer outra vez.

**

Nessa coisa de desinteressar surge também o surto do preciso produzir. Preciso aproveitar, assim como os outros, e terminar esse período cheia de coisas novas pra colocar em prática e ser a pessoa mais produtiva do mundo. Eu sei que produção é uma qualidade positiva criada pelo capitalismo, e que fora dele nem é tão urgente assim, faça o necessário, não precisa exceder, você não vai ser o melhor mesmo, não há necessidade de ser o melhor, pra que se desgastar? O que você ganha com isso? Absolutamente nada. Mas eu também gostaria muito de ser produtiva. De aprender alguma coisa nova e dizer olha eu aprendi alguma coisa nova.

Dizer pra quem? Não tem ninguém pra contar.

Não tem ninguém em volta, Eduarda.

**

Reli um texto meu de um tempo atrás, quando eu era uma adolescente (eu odeio essa palavra, não há um menos ruim pra expressar esse período de vida? É uma palavra muito feia) de Chanel com franja e camiseta dos Beatles, que gostava de chuva, café e livros, onde eu falava que gostava de não existir, de ter esse tempo de despreocupação com os outros. E isso é verdade. Quando você tá saturado dos outros, de todo dia lidar com gente e com tudo o que envolve gente, esses escapes são preciosos, são incríveis. Existir por você. Fazer as coisas por você. Mas nesse extremo, acho que nem a Eduarda de Chanel e franja e camiseta dos Beatles, chuva, café e livros, iria achar legal. Até ela ia falar, ok, eu admito, eu gosto de pessoas, eu gosto de estar com pessoas, eu preciso conversar e interagir com pessoas de forma real! Eu gosto de me vestir, eu gosto de aprender coisas para conviver, pertencer, existir – e as vezes, porque não, pra me exibir um pouco – com os outros e eu gosto que as pessoas troquem comigo também. Eu gosto que os outros falem sobre mim, eu gosto de falar sobre mim, eu gosto de ouvir os outros falarem sobre eles também. Ninguém merece tanto tempo assim ficar sem os outros – se for uma escolha pessoal, talvez, mas definitivamente não é uma escolha pessoal agora.

Para algumas pessoas ainda é, pois elas querem que os outros se fodam. Mas pra mim não é.

**

E agora eu dispersei mesmo, não há muitos assuntos do meu interesse para eu escrever.  Então esse surto de sentar e escrever também acaba aqui, porque não há temas o suficiente, não há vontade o suficiente, e não há interesse. Nenhum interesse, em coisa nenhuma.

Menos tomar café, mate e chá, e cozinhar. No fim o que sobra é a sobrevivência mesmo.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

estantes

construir uma biblioteca não é tão fácil quanto pensei um dia. não é simplesmente colocar ali todos os livros que quiser. é um processo eterno de curadoria, de quem se foi e é. apesar do volume fazer bem e ser belo, e ser desejado, ele nada diz se o que dá essa visual não condiz. então retiramos o que hoje, se se mantém, se estraga. e deixa ir. exercício de deixar ir. e um por um eu penso: essa história, eu ainda quero contar essa história? e deixo ir. tem que deixar ir.

o que eu quero acrescentar? o que vale a pena acrescentar? uma bela capa, uma bela edição, requisitos básicas para eu querer o físico antes de conhecer a história, e depois a história. e construir a biblioteca de histórias, e não de livros.

tudo deve ser lido. sem acúmulos desnecessários, acúmulos pra volume, pra conforto, pra aparência. não gosto de justificar coisas injustificáveis. só o que é lido, o que foi uma experiência, nem sempre boa, mas uma experiência.

e deixar ir.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

eu não gosto de verbos no infinitivo
eu não gosto da pessoalidade de frases começadas com pronomes
eu só sei escrever dessa forma

e odeio o que produzo

*

espero que entendam que fui eu que fiz
e o resto foi feito depois

quarta-feira, 8 de abril de 2020

privacidade que é também estar fora
e muitos
indiferença e desconhecido

pressão da vida doméstica
esmagador
colapso
demasiado tempo
demasiado nada
demasiado desinteresse
interesse demais

o momento sozinho de ser
o ser sozinho social
o social ser
ser que parece não existir
ao se diluir
pelas paredes
os móveis
o sofá

e de repente apenas um vasinho de flores murchas
os restos do ser dentro da vida doméstica

segunda-feira, 6 de abril de 2020

diluindo pouco a pouco nos móveis do lugar que moro
não existe existir sem os outros; os outros sou eu
só queria não me misturar ao lugar onde tenho que ficar
quando acho que fiquei a vida toda aqui

era hora de outra coisa
e agora é coisa nenhuma

quarta-feira, 18 de março de 2020

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

são dias normais e eu sei
dias de nada e mais nada
que os torna tão gritantes
não saber quem é é extremamente complicado
não saber o que se tornou; é tudo nostalgia; tudo era
e se era, não pertence mais, não conta

constantemente novo
é o que eu espero de mim
constantemente autêntico
é o que eu espero de mim
e um esbarra no outro, e não permite
e um esbarra no outro, e não chegamos a lugar nenhuma

perdida nos dias infinitos do não fazer
perdida no não saber fazer
perdida no que eu devia ter feito alguma hora

e agora eu não sei

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

saber que você não é sempre a mesma pessoa é aconchegante; o medo de mudar não tem, as coisas acontecem como acontecem, e a gente que se recrie do nosso novo jeito. ressurge e segue.

saber que você não é sempre a mesma pessoa me assusta. glória nenhuma do passado me pertence mais; não sou quem era quando realizei. quem sou e que conquistas tenho agora?

coisa nenhuma

não é pessoal mas é sobre mim, mesmo que não seja, principalmente, sobre mim

a partir de que momento comecei a temer, de novo, tudo? achei que era fase superada; agora sei o que sou, o que sinto, como lido. mas e a gora? agora é vazio, é ansiedade, é e agora. eu queria atuar plenitude, mostrar que está tudo bem, mas não tenho nem onde?

a partir de que momento colocar tudo, assim, de forma ordenada, com regras, e me questionar sobre elas, e se são relevantes, começou a ser difícil demais, até não acontecer? será que algum dia foi de fato normal, simples e fácil? agora, vejo, nunca foi. é sempre a volta que voltar. ciclo eterno. nunca é mais fácil, as vezes só não é necessário.

nessa não necessidade, é fácil. se não precisa, não preciso saber fazer. quando preciso, me mostro insuficiente. me mostro sem as ferramentas corretas. tanta teoria sobre tanta coisa e agora? joga palavra atrás de palavra, finge que sabe expressar.

excluído o passado mal expressado nessa má expressão que nunca dominei -- a menos que eu não precise, e aí sim, ela faz sentido --, não é excluído tudo. vaga lembrança, agora sim. mas ainda aqui.

eu persisto, no que não sei. uma hora há de completar. eu não completo.

começa sobre algo, termina sobre outro. fluxo e mais fluxo; assim é, pouco tempo passa, e aquelas coisas todas não importam mais, não é mesmo? é tudo momentâneo, queria ser momentânea.

o problema é que acho que tudo é pessoal.
nada é.
nem eu.