sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Alice

Alice acordou.
Abriu os olhos, e a claridade inundou seu dia.
Alice desceu as escadas, e colocou a chaleira no fogo.
Alice subiu as escadas, tomou um banho rápido, escovou os dentes, colocou uma roupa leve, ajeitou seu cabelo em uma trança, colocou os tênis e desceu as escadas.
Preparou um café bem forte e sentou ao lado da janela e observou a rua parada em que vivia.

Oito da manhã, Alice saiu.
Fez uma caminhada no bairro, comprou o jornal diário e foi para o trabalho.
Ao meio-dia, saiu do edifício, sentou-se numa mesa de um restaurante lotado que ficava na frente de onde trabalhava.
Comeu uma salada refrescante, bebeu um chá.
Voltou para o grande prédio cinza, e só saiu de volta quando já eram pra lá das cinco e meia da tarde.

Chegou em casa.
Subiu as escadas, tomou um banho demorado, escovou os dentes, colocou o pijama, e desceu as escadas.
Preparou um sanduíche de legumes e queijo, e sentou-se na janela para observar o fim de tarde na rua segura em que vivia.
Nove da noite, Alice dormiu.


Alice acordou.
Abriu os olhos, e o nublado inundou seu dia.
Alice desceu as escadas, e colocou a chaleira no fogo.
Alice subiu as escadas, tomou um banho rápido, escovou os dentes, colocou uma roupa e pegou um casaco, ajeitou seu cabelo em um rabo de cavalo, colocou os tênis e desceu as escadas.
Preparou um café bem forte e sentou ao lado da janela e observou a rua parada em que vivia.

Oito da manhã, Alice saiu.
Comprou o jornal diário e um guarda-chuva e foi para o trabalho.
Ao meio-dia, saiu do edifício, sentou-se numa mesa de um restaurante lotado que ficava na frente de onde trabalhava.
Comeu uma massa com molho de legumes, bebeu um chá.
Voltou para o grande prédio cinza, e saiu quando já eram cinco e meia da tarde.

Chegou em casa.
Subiu as escadas, tomou um banho demorado, escovou os dentes, colocou o pijama, e desceu as escadas.
Preparou uma salada com molho de mostarda e mel, e sentou-se na janela para observar o fim de tarde na rua segura em que vivia.
Nove da noite, Alice dormiu.


Alice acordou.
Abriu os olhos, e o barulho da chuva inundou seu dia.
Alice desceu as escadas, e colocou a chaleira no fogo.
Alice subiu as escadas, tomou um banho rápido, escovou os dentes, colocou uma roupa quentinha, ajeitou seu cabelo em uma boina, colocou as botas e desceu as escadas.
Preparou um café bem forte e sentou ao lado da janela e observou a rua chata em que vivia.

Oito e meia da manhã, Alice saiu.
Abriu o guarda-chuva.
Comprou o jornal diário e foi para o trabalho.
Ao meio-dia, saiu do edifício, abriu o guarda-chuva e sentou-se numa mesa de um restaurante engordurado que ficava na frente de onde trabalhava.
Comeu um sanduíche rápido, comprou uma água.
Voltou para o grande prédio cinza, e saiu quando já eram cinco e meia da tarde.

Chegou em casa.
Subiu as escadas, tomou um banho demorado, escovou os dentes, colocou o pijama, e desceu as escadas.
Pediu comida japonesa, e sentou-se na janela para observar o fim de tarde na rua triste em que vivia.
Onze da noite, Alice dormiu.


Alice acordou.
Abriu os olhos.
Tomou banho, escovou os dentes, colocou uma roupa confortável, ajeitou o cabelo num coque, colocou o tênis e desceu as escadas.

Sete da manhã, Alice saiu.
Correu pelo bairro, em direção a lagoa no centro, com o chuvisco lhe causando arrepios.
Entrou num café, tomou algo quente, comeu algo qualquer. 
Correu em direção a qualquer lugar.

Não voltou para casa.



O sábado amanheceu e um corpo boiava numa poça de chuva na área rural da pequena cidade.
O dono da propriedade ficou assustado.
Chamou a polícia.
O corpo nunca foi identificado, ninguém procurou por ele.
Foi enterrado no cemitério bonitinho e arborizado da cidade, sem uma placa identificando quem, sem uma mensagem de esperança.


Alice nunca mais acordou.

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